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Design para Todos

No dia 10 de outubro foi inaugurado o primeiro brinquedo universal da cidade de São Paulo. Não é de se duvidar que esse deva ser o primeiro equipamento do tipo em todo o estado, quiçá no país, uma vez que a preocupação com projetos inclusivos que atentem para as pessoas com deficiência é quase insignificante no Brasil.

Localizado no parque do Ibirapuera, próximo à marquise, o já apelidado “brinquedão” foi a atração da programação especial da Semana da Criança numa parceria entre o Parque e a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED).  O novo playground foi concebido para proporcionar o acesso de crianças com deficiência ou mobilidade reduzida, possibilitando a elas a vivência de novos sentidos e experiências, sem ser exclusivo dessa faixa da população. Ou seja, trata-se de um genuíno equipamento universal a ser usufruído por todas as crianças e inclusive proporcionando àquelas que não têm restrições sensoriais ou de mobilidade, as modalidades de interação daquelas com deficiências. A Prefeitura Municipal de São Paulo definiu a nova atração como “um grande circuito colorido de ferro com curvas, intervenções sonoras e visuais, que funciona como um instrumento de conexão e aproximação lúdica entre crianças, desafiando os participantes da brincadeira a superar seus limites.”  Íntegra da PMSP sobre inauguração do brinquedo aqui .  

E o que um brinquedo de playground poderia ter em comum com uma carteira escolar?  Respeito à diversidade humana. Ambos os projetos obedecem ao princípio básico do design inclusivo ou como também é chamado “Desenho Universal”.  A cada dia, em âmbito mundial, essa premissa na concepção de espaços, produtos e serviços direcionados ao maior número de pessoas possível, independentemente das suas capacidades, vem ganhando  seguidores.

Colocando esse conceito em prática a designer industrial e arquiteta Érika Foureaux desenvolveu um projeto pioneiro: a Carteira Escolar Inclusiva (CEI). O produto demonstra que o design é uma poderosa ferramenta de inclusão e foi desenvolvido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A carteira beneficia todas as crianças, portadoras ou não de deficiência, proporcionando um bom posicionamento, estabilidade, conforto e segurança na realização das tarefas escolares.  A designer inspirou-se em sua experiência com a própria filha, que tem deficiência física. Observando que o mobiliário existente em sala de aula, mesmo quando adaptado, não proporcionava condições para que ela desempenhasse suas tarefas em igualdade com as demais crianças, decidiu conceber um equipamento que atendesse ao conceito da verdadeira inclusão. Segundo a arquiteta, “o mobiliário adaptado ressalta a exclusão por sua aparência vinculada a doença e incapacidade”.

Amparado numa pesquisa que envolveu 27  escolas públicas do ensino fundamental em Belo Horizonte que possuíam ao menos um aluno deficiente em classe regular, o projeto da CEI demandou  sete equipes multidisciplinares compostas por arquitetos, designers, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, sociólogos e pedagogos. Na etapa seguinte a equipe iniciou a fase de diagnósticos, com relatórios de acessibilidade arquitetônica, de mobiliário e de áreas externas, focando as atitudes percebidas pelo grupo frente à comunidade escolar. O programa da Fundação deu  o incentivo financeiro que precisavam para contratar a equipe de engenharia mecânica. Sem esta etapa, o produto não se viabilizaria. Foram oito profissionais dedicando-se por cerca de um ano, a desenvolver soluções que foram desde a mecânica até os processos de fabricação, materiais e logística de produção.

A carteira inclusiva oferece às salas de aula a proposta de um móvel que pode ser utilizado por qualquer criança, com deficiência ou não, proporcionando melhor desempenho nas tarefas e no aprendizado.  Esse é o conceito que ainda falta nas proposas  de inclusão que apoiam-se em premissas superficiais de simples anexação da pessoa com deficiência e seus aparatos ao ambiente escolar, como algo postiço, que na maioria das vezes estigmatiza o aluno deixando-o em separado do restante do grupo. Incluir é repensar todo o ambiente físico, afetivo e pedagógico para que se alcance a abordagem universal em que todos usufruem verdadeiramente da tão almejada igualdade. .  A Carteira Escolar Inclusiva, é bonita, de fácil manutenção,  regulável em altura, profundidade e inclinação. E pode ser utilizada por cadeirantes, já que respeita as normas estipuladas pela ABNT para esse usuário. O equipamento já recebeu vários prêmios, inclusive no exterior. Entre eles, o Top Social,  pela AdvB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, em 2005. Foi finalista do “Prêmio Criança 2006”, da Fundação Abrinq – Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos do Brasil e  premiada pelo Handite, feira realizada em Paris com produtos para deficientes, e ainda foi um dos finalistas no “Prêmio IF Awards”, na Alemanha, em 2007.

Com tanto reconhecimento à sua qualidade é de se lamentar que até agora a CEI não tenha sido “descoberta” e adotada por gestores da educação pública e privada como mobiliário nas salas de aula do país.

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