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Cinema & Autismo: quando o lazer é universal

* tradução livre por márcia lombo machado. Texto e link originais ao final do texto.
 

Dentro do cinema as luzes estão acesas quando o filme começa às 10 horas da manhã. Nenhum trailer de outro filme se interpõe à exibição de “Gnomeo e Julieta”.

Quando um dos gnomos animados diz: “Olá!” um garoto na plateia grita: “Olá, Olá! Olá!”. Ninguém no cinema se manifesta para que o menino fique quieto, nem lança um olhar furioso aos seus pais.

Uma cena semelhante acontece uma vez por mês no AMC Loews Waterfront 22 em West Homestead.

Famílias de crianças com autismo ou outros distúrbios sensoriais são brindados com uma experiência de cinema sensorial-amigável que lhes permite gostar de ir a uma sessão de cinema.

Durante o programa AMC Theatres Sensorial Friendly Films  (Filmes Sensoriais Amigáveis da AMC Cinemas) as luzes da casa ficam acesas, o som é baixo, não há exibições prévias ou comerciais, e membros do público não são desencorajados a fazer barulho ou andar.

“É ótimo”, disse Colleen Thompson, de Brentwood, cujos dois filhos – ambos com autismo – assistiram à exibição do filme. “As crianças podem falar e correr ao redor, se necessitam, e isso não incomoda ninguém porque todo mundo é compreensivo. É diferente quando você tem pessoas que não entendem.”

Thompson disse que sua filha, Melody de 7 anos de idade, já havia ido ao cinema  em uma excursão da escola: “Foi demais para ela”, disse Thompson. “Ela gosta que não seja tão barulhento e escuro”.

“Gnomeo & Juliet” foi o segundo filme para a família, que inclui seu marido Bill e seu filho Jarrett, 4 anos, que tem uma forma de autismo.

O programa foi iniciado a pedido de uma mãe de Maryland, que foi expulsa de uma sala de exibição de outra cadeia de cinema porque sua filha dançou e agitou os braços durante um filme. A mãe buscou o gerente do cinema AMC em sua área, e eles vieram com a idéia para o filme sensorial-amigável no outono de 2007, de acordo com Cindy Huffstickler, porta-voz da AMC.

O programa tornou-se nacional em agosto de 2008 com 11 cinemas em 10 localidades e cresceu para 129 cinemas em 61 localidades nos Estados Unidos e Canadá.

“É a coisa certa a fazer”, disse Huffstickler. “Estamos dando a um monte dessas famílias e suas crianças, por vezes, as primeiras oportunidades de ir ao cinema. … Muitas crianças vão à escola e ouvem os outros alunos falando sobre filmes enquanto eles não tiveram a chance de ir ao cinema. Agora nós temos lhes proporcionado essa chance.”

Os filmes são exibidos um sábado por mês, geralmente por volta das dez horas  da manhã. Os filmes são para famílias com classificação de censura livre ou com leve restrição.

Em Pittsburgh, os filmes sensoriais-amigáveis começaram no outono de 2008. Dan Torisky, presidente da Autism Society – Divisão de Pittsburgh, disse que os filmes são muito populares, com muitas famílias, inclusive sua própria. “Meu filho tem 53 anos. Ele vive na Allegheny Valley School, e nos visita em alguns fins de semana”, disse Torisky. “E sempre que eu sei que haverá um filme, eu vou buscá-lo e o levo.”

A recente exibição de “Gnomeo & Juliet” foi a primeira vez que Hannah Myers, de três anos, assistiu a um filme.

Hannah foi diagnosticada com autismo aos 2 anos. Sua mãe, Destiny Myers de Oakdale, disse que não tinha certeza se Hannah iria permanecer sentada ao longo de um filme.

“Eu sabia que ela nunca iria permanecer sentada durante os trailers, e nestes não há essas pré-exibições,” Myers disse.

Hannah conseguiu ficar parada por cerca de uma hora antes de começar a se inquietar. Myers disse que não sentiu que as pessoas estivessem olhando para ela, como fazem normalmente, se Hannah se manifesta.

“Proporcionou um ambiente relaxante”, disse ela. “Se ela começasse a pirar ou a subir na poltrona, não seria algo fora do normal. … Você tem uma tensão de:” Será que ela vai começar a gritar? Todo mundo vai ficar furioso. Será que ela vai fazer muito barulho? ” e isso retirou a pressão da situação. ”

Outras empresas começaram a oferecer acomodações especiais para pessoas com problemas sensoriais.

BounceU em Warrendale, repleto de estruturas infláveis onde as crianças podem saltar, começou a oferecer noites sensório-amigáveis em setembro. O proprietário da franquia, Kim Hannigan, disse que acomoda as crianças diminuindo o volume da música que ecoa por todo o ambiente.

“É apenas uma maneira para as crianças com esse tipo de problema estarem juntas, de conviverem juntas, e também para os irmãos que passam a enxergar que seu irmão e irmã não é um-de-um-tipo, que existem outras crianças e famílias lá fora passando pela mesma coisa que eles”, disse Hannigan.

Enquanto os eventos são realizados uma vez por mês, Hannigan está buscando expandir isso.

Lisa Liston, presidente da Autism Society – Divisão de Westmoreland County, disse que enquanto algumas famílias na sua organização têm ido ao cinema em Homestead, a distância é um obstáculo para muitos outros.

“Nós realmente adoraríamos ter um cinema nesta área para tirar proveito disso”, disse ela. “Eu acho que é uma oportunidade maravilhosa para que possam gozar do que todo mundo costuma gostar.”

Liston disse que algumas empresas do condado trabalham de perto com sua organização para realizar eventos especiais para as pessoas com autismo.

Por exemplo, a Autism Society é capaz de hospedar festas várias vezes no ano em Latrobe Skating Rink.

“Somos capazes de manter a música baixa, não usar as luzes estroboscópicas e coisas desse tipo”, Liston disse. “Eles têm sido muito receptivos a isso.”

No verão, o grupo aluga a piscina do Campo Lynch, em Greensburg, uma vez por mês para uma festa privada na piscina. Para aqueles com autismo, nadar com a multidão habitual e música aos berros pode ser intolerável.

“Isso realmente ajudou alguns dos miúdos com as coisas como aprender a ficar na fila no escorregador”, Liston disse. “Tentamos fazer um monte de coisas desse tipo dentro da comunidade local, apenas para tentar sensibilizá-los. Isso parece ter realmente funcionado.”

 

Leia mais sobre o Cinema West Homestead, que desenrola o tapete vermelho para crianças autistas https://www.amctheatres.com/programs/sensory-friendly-films

Inside the movie theater, the lights are on as the film starts at 10 a.m. No previews get in the way of this showing of “Gnomeo & Juliet.” When one of the animated gnomes says, “Hello!” a boy in the audience yells, “Hello! Hello! Hello!”

No one in the theater tells him to be quiet or casts an angry glance at his parents.

A similar scene unfolds once a month in AMC Loews Waterfront 22 in West Homestead.

Families of children with autism or other sensory disorders are treated to a sensory-friendly movie experience that lets them enjoy going to a theater.

During AMC Theatres Sensory Friendly Films program, the house lights stay on, the sound is turned down, there are no previews or commercials, and audience members aren’t discouraged from making noise or walking around.

“It’s great,” said Colleen Thompson of Brentwood, whose two children — both of whom have autism — have attended the film showings. “The kids are able to talk and run around if they need to, and it doesn’t bother anybody because everybody is understanding. It’s different when you have people that don’t understand.”

Thompson said her daughter, 7-year-old Melody, had previously taken a school field trip to the movies.

“It was just too much for her,” Thompson said. “She appreciates it being not as noisy and not as dark.”

“Gnomeo & Juliet” was the second movie for the family, which includes husband Bill and son Jarrett, 4, who has a form of autism.

The program started at the request of a Maryland mother who was kicked out of another chain’s theater because her daughter danced and flapped her arms during a show. The mother reached out to the manager at the AMC theater in her area, and they came up with the idea for the sensory-friendly film in fall 2007, according to Cindy Huffstickler, spokeswoman for AMC.

The program went national in August 2008 with 11 theaters in 10 markets and has grown to 129 theaters in 61 markets in the United States and Canada.

“It’s the right thing to do,” Huffstickler said. “We are giving a lot of these families and the children sometimes their first opportunities to go to a movie. … A lot of kids go to school and they hear the other students talk about movies and they didn’t have a chance to go to the movies. Now we’ve given them that chance.”

The movies are held one Saturday a month, usually about 10 a.m. The films are family-friendly with a G or PG rating.

In Pittsburgh, the sensory-friendly films began in fall 2008.

Dan Torisky, president of The Autism Society Pittsburgh Chapter, said the movies are very popular with many families, including his own.

“My boy is 53 years old. He lives at the Allegheny Valley School, and he visits on some weekends,” Torisky said. “And whenever I know there’s going to be a movie, I’ll pick him up and take him.”

The recent showing of “Gnomeo & Juliet” was the first time 3-year-old Hannah Myers had attended a movie.

Hannah was diagnosed with autism at 2. Her mom, Destiny Myers of Oakdale, said she wasn’t sure if Hannah would sit through a movie.

“I knew she’d never sit through the previews, and these ones don’t have previews,” Myers said.

Hannah managed to sit still for about an hour before she got restless. Myers said she didn’t feel that people were staring at her, as they normally do if Hannah acts out.

“It gave you more of a relaxed feel,” she said. “If she started freaking out or climbing out of the seat, it’s not as big of a deal. … You have that stress of, ‘Is she going to start screaming? Everybody’s going to get mad. Is she going to make lots of noise?’ and that took the pressure out of it.”

Other businesses have begun to offer special accommodations for people with sensory issues.

BounceU in Warrendale, filled with inflatable structures where kids can bounce, began offering sensory-friendly nights in September. Franchise owner Kim Hannigan said she accommodates the children by lowering the volume on the music that plays throughout the facility.

“It’s just a way for children with like issues to be together, to socialize together, and also for siblings to see their brother and sister is not one-of-a-kind, that there are other children and families out there going through the same thing they are,” Hannigan said.

While the events are held once a month, Hannigan is looking to expand that.

Lisa Liston, president of the Autism Society of Westmoreland County, said that while some families in her organization have gone to the movies in Homestead, the distance is an obstacle for many.

“We would really love to have a theater in this area to take advantage of that,” she said. “I think it’s a wonderful opportunity to allow them to enjoy what everybody else gets to enjoy.”

Liston said some county businesses work closely with her organization to stage special events for those with autism.

For example, the Autism Society is able to host parties several times a year at Latrobe Skating Rink.

“We’re able to keep the music down and not do the strobe lights and things like that,” Liston said. “They have been very amenable to that.”

In the summer, the group rents the Lynch Field pool in Greensburg once a month for a private swimming party. For those with autism, swimming with the usual crowds and blaring music can be intolerable.

“It has really helped some of the kids with things like learning to stand in line at the sliding board,” Liston said. “We try to do a lot of that kind of stuff within the local community, just to try to get them desensitized. That seems to have really worked.”

Read more: West Homestead theater rolls out red carpet for autistic children – Pittsburgh Tribune-Review http://www.pittsburghlive.com/x/pittsburghtrib/news/westmoreland/s_726125.html#ixzz1FwUU9gP6

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Carnaval: Nação sem Noção.

Mais um sábado chuvoso no estado de São Paulo. Como tantos outros não fosse o primeiro dia do Carnaval 2011 em que sobram lamentos sobre as perdas da folia e das possibilidades de aproveitar o prolongado feriado em decorrência do cenário plúvio.

Curioso a maioria dos brasileiros mal conhecer o significado do feriado e da festa.  Segundo o dicionário Houaiss a palavra Carnaval vem do latim clássico CARNEM LEVÁRE, substantivo que significa “abstenção de carne” demarcando os últimos dias em que seria permitido consumi-la antes da Quaresma. Uma espécie de celebração de vale tudo antecedendo um longo período de total recato e reflexão em preparativos à Páscoa. Coisa de seres humanos. Total incoerência no mais equivocado Carpe Diem concebível, mais identificável com pura libertinagem, e a tentativa de concebê-la como um marco justificável antes do recolhimento religioso.  Somos definitivamente seres inferiores neste universo de trilhões de mundos.  Einstein, um dos poucos a trazer algum lumen à nossa podre civilização, resumiu com propriedade nossas discrepâncias e idiossincrasias: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana; e não tenho certeza sobre o universo“.

Nas terras brasileiras ainda assistimos anualmente ao dispêndio de tempo, trabalho e verbas (públicas) em prol da construção dos carnavais denominados populares. Em escolas de samba do Rio de Janeiro, a festa popular deu lugar, há muito, a uma complexa indústria que envolve além da produção espetacular, seu peso em ouro angariando influência política e força na contravenção e no crime. Pouco sobrou do que ali surgiu na década de 20 como verdadeira manifestação do povo.

O modelo das escolas acabou sendo imposto ao resto do país, mesmo que incondizente com as raízes culturais locais, copiado e empurrado goela abaixo da população, não sem a conivência da grande mídia, em especial da TV. É então que constatamos com tristeza, como a população consegue arranjar tempo, disposição e talento para um uso tão esquizofrênico, ocupando-se na criação de um universo que sabem não ser real enquanto eximem-se de semelhante dedicação e garra na construção de suas vidas cotidianas. O verso de Caetano tudo explica: Somos uns boçais…

Dra. Leida Diniz em defesa do patrimônio público.

Vez por outra uma vela é acesa. Aqui e ali chegam notícias que trazem esperança: em Itaipava (RJ) toda a verba que seria usada para a realização do Carnaval – R$ 1 milhão – será revertida para a desapropriação de dois terrenos onde serão construídas casas populares para os desabrigados das chuvas que atingiram a região no dia 12 de janeiro, conforme anunciou o prefeito Paulo Mustrangi.  Chego a ponderar a necessidade da repetição das tragédias para acordar consciências. Em Salvador, o bloqueio e a penhora das verbas de patrocínio ao Carnaval alegando que tais recursos seriam utilizados para cobrir um rombo trabalhista da prefeitura que remonta aos anos 80. A melhor de todas veio de Teresina (PI).   Numa coragem de dar inveja a promotora Leida Diniz foi contundente ao bater o martelo: cortou o barato da prefeitura que há sete anos destinava recursos para o financiamento dos desfiles das escolas de samba – neste ano seriam distribuídos R$ 350 mil para as sete agremiações carnavalescas. “Com esse dinheiro quantas escolas, bibliotecas e ginásios poliesportivos poderiam ser construídos?”, questionou a Dra. Leida, ponderando que despesas com festas carnavalescas não configuram interesse público. Por sua vez, o prefeito de Teresina, Elmano Férrer (PTB) tentou acordo e contestou o Ministério Público alegando estar “respeitando os percentuais a serem aplicados com educação e saúde”… Pedido não acatado e decisão mantida. Clap! Clap! Clap!! Aplausos fervorosos e de pé à promotora. 

Quando afinal, nos livraremos dessa mediocridade? Da visão tacanha de administradores ignorantes incumbidos de disseminar cada vez mais a ilusão, o ópio e distribuir migalhas aos cães? Acontece sermos nós os cães sarnentos a nos apertar contra a grosssa tela de proteção estendida ao longo das avenidas em que o público devidamente enjaulado do lado de fora enebria-se no frenesi proporcionado por outros tantos, em situção igualmente deprimente,  julgando-se fazer parte de espetáculo tal, que venha acrescentar-lhes alguma polegada de importância e felicidade compartilhada no delírio coletivo.. . Passarão em desfile o que pouco expressa ou traz de cultura ou valores dignos a uma nação. 

Assim também acontece por aqui, na pequena Guaratinguetá. Sem perceber permitimos ser engaiolados na Av. Presidente Vargas. Ali e num futuro cada vez mais sombrio em que não queremos ter voz ativa para gritar por nossos direitos mais básicos, pela saúde de nossos filhos, pela educação da juventude, por saneamento, urbanização. Mais fácil atuar no duplo papel da acomodação e do lamento. Ah! a pouca sorte e a falta de tudo nos serviços públicos!  Salário mínimo, investimento mínimo, saúde e educação abaixo do mínimo. Parecem ser esses a cidade e o Brasil que queremos.  A mudança não se faz em Brasília, no Congresso ou nas Câmaras Legisltivas. A mudança se faz no despertar da perspectiva de cada um, na porta de casa, na conversa com o vizinho,  na cobrança diária por dignidade, muitas vezes na cobrança pelo básico à sobrevivência.  Que sejamos resgatados por jovens como a reporter paraibana no vídeo abaixo. Talvez ainda haja mesmo esperança.

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